A química como ciência teve início no final do século 18. No entanto, ela está entre nós há muito mais tempo, sendo responsável por tudo que conhecemos, desde o simples ato de acender fogo até o complexo manuseio dos nanomateriais em avançados laboratórios do século 21. Revelar os segredos dessa ciência, o seu desenvolvimento ao longo do tempo, bem como os reflexos no cotidiano das pessoas é a proposta da exposição Elementar – a química que faz o mundo, que está de volta em cartaz na sala 307 do Castelo da Fiocruz a partir de 19 de agosto, de terça à sexta, das 9h às 16h30 (mediante agendamento), e aos sábados, das 10h às 16h (livre).
Uma maquete convida o visitante a entrar nesse universo, mostrando um alquimista da idade média em seu ambiente de pesquisa. Mais tarde, a alquimia daria origem à química. A mostra é composta de atividades interativas desde o começo, destacando-se uma grande tabela periódica, atividade com produção de imagens em 3D, painéis e brincadeiras que usam os conceitos da química. Tudo para mostrar sua importância, beleza e influência, revelando que, desde os primórdios, esta ciência ajuda, salva, encanta, diverte e, não sem motivo, também, ameaça.
O público pode conferir, no Museu da Vida, como houve a separação entre a alquimia e a química, o porquê das cores em pedras preciosas, como os elementos se combinam para formar o que conhecemos, o que comemos e como eles foram organizados em uma tabela periódica, que, mesmo tendo sido elaborada no século 19, tira do sério muitos estudantes até hoje.
Iniciativa do Museu da Vida, vinculado à Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, a exposição Elementar – a química que faz o mundo conta com apoio da Sociedade Brasileira de Química e parceria do Ministério da Ciência e Tecnologia / Conselho Nacional para o Desenvolvimento de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da The University of Nottingham, do Reino Unido.
Interatividade marca exposição
Na sala de exposição, o visitante se depara com uma enorme tabela periódica interativa. Criada pela equipe do Museu da Vida, ela é composta por 118 pequenos cubos com informações sobre cada um dos elementos químicos. Além disso, traz um código em 2D, conhecido como QR Code. Colocado em um compartimento ao lado de um aparelho de TV, uma leitora ótica lê o código e aciona um vídeo fornecido pela The Nottingham University (Reino Unido) com explicações – legendadas em português – de um cientista sobre o elemento. Ainda nesta parte da mostra é possível brincar com a criação de moléculas, a partir do conhecimento dos elementos. Desta vez uma câmera projeta a imagem da pessoa, manipulando Oxigênio (O), Carbono (C), Hidrogênio (H) e outros, gerando uma possível molécula. O resultado é informado imediatamente ao término do “experimento” em áudio.
A última parte é dedicada a oficinas. Nelas as crianças poderão produzir polímeros, moléculas e fazer pinturas. O objetivo é explorar as propriedades dos polímeros, manipular estruturas moleculares e se divertir! Uma substância gelatinosa, ou “gosmenta”, será usada para o experimento, sendo esticada, amassada ou jogada, para mostrar suas diferentes formas. Além disso, moléculas de glicose, etanol e água serão montadas a partir de estruturas construídas com garrafas plásticas reaproveitadas. E, nesta fase final da mostra, as crianças poderão se divertir com o ‘Pintando o sete invisível’, uma atividade lúdica para mostrar o poder de algumas soluções químicas especiais e conhecidas pelos pequenos.
Química – uma ciência criada na revolução
Antoine de Lavoisier separou a química da alquimia, em 1789. Cinco anos depois, em plena Revolução Francesa, seria vítima de um julgamento sumário e condenado à morte na guilhotina. Considerado o pai da química moderna, ele deu à nova ciência uma linguagem própria, estabelecendo uma metodologia e abrindo caminho para um quadro de referência estruturado e lógico, descrevendo o comportamento e a interação entre as substâncias químicas. Desta forma deixou claro que a alquimia – mistura de arte e técnica, ciência e magia, que buscava a pedra filosofal e cujo ponto culminante ocorreu na Idade Média – não seguia os mesmos paradigmas científicos da química.
De Dalton à tabela periódica
No início do século 19, o químico e físico inglês John Dalton mostrou que o mundo à nossa volta era feito de átomos, nome grego para algo que não se divide, ou os elementos químicos. Estes foram posteriormente organizados na tabela periódica, proposta por Dmitri Mendeleev em 1869. A partir de pesquisas como as de Pierre e Marie Curie e da síntese em laboratório, identificou-se um número cada vez maior de elementos. Hoje, a tabela é composta por 118 deles.
Nanomateriais
Os nanomateriais, estruturas artificiais em escala molecular, oferecem maior confiabilidade, longevidade, precisão e leveza e já são encontrados nos mais diferentes campos, como a eletrônica, a construção e a medicina, entre outros. Nanopartículas podem melhorar as propriedades terapêuticas de drogas, distribuindo-as com maior eficiência pelo organismo. Materiais com memória, que podem aguentar alta temperatura, flutuar, transmitir informações, ou nos permitir ver o mundo pela janela de grandes TVs. Super leves e resistentes, novas ligas metálicas foram desenvolvidas para nos levar mais longe. Nanotubos de Carbono reforçam as asas dos aviões. Tecidos inteligentes secam mais rápido, protegem contra os raios solares, impedindo o desenvolvimento das bactérias associadas ao suor e regulam o calor do corpo.
Revolução na saúde
A mostra também revela que a saúde sofreu uma revolução graças aos novos conhecimentos da química. Isso aconteceu com a tecnologia da extração e síntese de princípios ativos, contribuindo para a produção em larga escala dos primeiros antibióticos e hormônios sintéticos até as drogas que tratam Aids, câncer, depressão e moléstias cardiovasculares. Das sínteses químicas surgiram, ainda, os insumos que permitiram o desenvolvimento das vacinas.
Química e a sociedade de consumo
Com a exposição, o público vai compreender como a química contribui para a sociedade de consumo. Criação da natureza, os polímeros – moléculas grandes compostas de unidades menores repetidas como proteínas, DNA e carboidratos – têm sido fabricados artificialmente pelo homem. Podemos encontrá-los em embalagens para preservar, transportar e vender os alimentos. Plásticos, borracha sintética, nylon, PVC, isopor, PET e outros polímeros sintéticos têm como fonte principal de matéria-prima o petróleo, mas causam poluição. Os naturais desaparecem com facilidade, mas com os produzidos artificialmente isso não acontece. Por isso, a química contribui para o desenvolvimento de materiais menos poluentes.
A química está presente ainda na indústria da beleza, através de cosméticos e cremes oferecidos como armas para aumentar o poder de sedução, retardar o envelhecimento e ocultar imperfeições. A exposição entra nesse universo, mostrando a influência dos hormônios (moléculas químicas sinalizadoras) nas mudanças do ser humano, como na fase da puberdade e na gravidez. E revela o que a química faz para diminuir esse impacto no corpo humano. Já na área da alimentação podemos ver sua influência na indústria do chocolate e de outros produtos. A química também está presente no comércio de jóias e pedras preciosas, com destaque para diamantes, safiras (óxido de alumínio) e outros minerais encontrados na natureza ou produzidos artificialmente.
Biocombustíveis
Na busca por uma forma renovável e menos poluente de energia, foram desenvolvidos os biocombustíveis. O refino da cana-de-açúcar trouxe o álcool combustível, tecnologia que faz do Brasil um país pioneiro nessa área. De óleos vegetais, obtidos da soja, do girassol, do dendê e da mamona, por exemplo, surgiu o biodiesel, bem como outras moléculas usadas em indústrias químicas.
Água potável
Mesmo abundante no planeta, a humanidade enfrenta o desafio de garantir água potável para todos. Pelo menos 30 países já enfrentam a sua escassez. Para evitar que mais pessoas tenham dificuldade em conseguir este líquido precioso, é preciso reunir esforços para evitar a poluição por parte da indústria e da agricultura, bem como o desperdício em nosso dia a dia. A química pode ajudar, através de alternativas como a dessalinização da água do mar. Mas substâncias químicas também estão presentes em cada etapa do tratamento da água que consumimos. Cloro, Flúor e até mesmo o Carbono, na forma de carvão ativado participam desse processo.
Metais e os novos materiais
A exposição revela como o homem trabalhou o metal na fabricação de armas, para obter riqueza, produzir utensílios e até arte. A invenção da metalurgia, permitindo o desenvolvimento das ligas metálicas, marcou estágios na história das civilizações: Idade do Bronze, Idade do Ferro. A produção do aço, um material mais resistente à corrosão e mais leve, tornou possível a segunda fase da Revolução Industrial, no século 18. Recentemente, a ciência desenvolveu novas cerâmicas para uso em transportes. Um exemplo são as naves espaciais, que, revestidas por este material, ganham proteção do calor durante a reentrada na Terra.
Núcleo do átomo – radioatividade
Assunto de impacto, recentemente, com o terremoto seguido do tsunami que provocou uma tragédia no Japão, atingindo seriamente um complexo nuclear na cidade de Fukushima, a energia nuclear também vai ocupar espaço na mostra. São apresentados elementos químicos como rádio, urânio, plutônio, tório e césio, que podem liberar energia e outras partículas. Essa radioatividade não é boa ou ruim, mas seus usos podem ser perigosos ou benéficos. Na medicina, o domínio do núcleo atômico permitiu o combate ao câncer, salvando vidas. Outra aplicação é na datação de rochas e fósseis, ajudando na montagem do quebra-cabeça em torno do início da vida no planeta.
Serviço
Título: Elementar – a química que faz o mundo
Inauguração: a partir de 19 de agosto
Visitação: de terça a sexta-feira, das 9 às 16h30 (com agendamento). No sábado, das 10 às 16 horas (livre). Entrada gratuita. Público: todas as idades.
Endereço: Av. Brasil, 4.365, Manguinhos.
Telefone para agendamento: (21) 2590-6747