Qual a diferença entre o revisionismo de natureza historiográfica e o revisionismo de caráter ideológico? O questionamento foi um dos pontos discutidos pelo professor Marcos Napolitano, da Universidade de São Paulo (USP), na aula inaugural da Casa de Oswaldo Cruz, nesta sexta-feira (19/3). Na aula, o historiador explicou que o negacionismo está relacionado à "negação, a priori, de um consenso científico a partir de um movimento organizado de opinião que trabalha com desinformação”.
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Napolitano explicou que as origens do negacionismo remontam ao regime nazista. "Historicamente, a palavra negacionismo esteve ligada a correntes de opinião que negavam o Holocausto na Segunda Guerra Mundial", disse, acrescentando que o uso do termo ampliou-se para abarcar fenômenos correlatos nas últimas décadas.
Em sua explanação, Napolitano diferenciou o negacionismo do revisionismo ideológico. "O revisionismo ideológico, em vez de negar a existência do fato, procura interpretações que desconstruam a hegemonia em torno dele, sobretudo se for uma hegemonia cientificamente embasada na comunidade de pesquisadores", afirmou.
Ao caracterizar o negacionismo como um movimento organizado que dissemina desinformação, Napolitano explorou algumas de suas características. "O negacionismo mente e reivindica, ao mesmo tempo, a verdade. Ele parte de uma atitude de rejeição da verdade para reivindicar o direto ao debate sobre a verdade científica", explicou.
O pesquisador alertou, ainda, que espaços que promovem debates acadêmicos e científicos não devem abrir portas a esses discursos sob pena de legitimá-los. "Não se dialoga com negacionista; debate-se o negacionismo. Não [se pode] cair na armadilha de reconhecer o negacionismo como uma opinião acadêmica e científica [válida]", disse.
Assista à aula na íntegra: